Da Normopatia
A Normopatia é um desejo patológico de se percebido pelos outros como alguém "normal". Trago uma crônica que te leva a pensar como as pessoas buscam sentido nos lugares equivocados
Daqueles deliciosamente normais, que seguem contentes para seus abismos individuais, sem se darem conta, são espectadores involuntários. Em sua jornada ao nada, se entopem de vazios e microgerenciamento; reformam a face estética do vazio e o entregam como inovação. Do alto do conformismo, projetam a ilusão de preenchimento em varandas gourmets, em fachadas meticulosamente ordenadas, onde a essência escorre e desaparece, sem rastro. Tudo é belo e padronizado, mas o recheio é de achismos, moldados e reformatados. Sem alma, sem opinião. São uma legião de sorrisos ocos, que exibem a face mais alegre da tristeza, mergulhada em superficialidade.
Não há coach ou método de auto-ajuda que combata o desejo inconsciente de se desconhecer. Este impulso de negação afasta qualquer possibilidade de autoconhecimento, anulando o que realmente possui valor. Os símbolos do status – riqueza confundida com dinheiro, ascensão social comprada, iates desprovidos de propósito – nada mais são que ecos de uma toxicomania oculta. Uma sobriedade forçada, abstêmia e rígida, embota ainda mais a alma que nunca despertou. Esse culto ao material e à aparência é um véu espesso, encobrindo vidas tão carentes de existência que nem notam a ausência do próprio existir.
É um conformismo que asfixia. Com ele, vem a ausência de subjetividade, de pertencimento genuíno, e de qualquer expressividade que vá além do protocolar. Vivem-se dias de aniquilação do contato profundo e de tudo o que é sentimento real. Aquilo que poderia se enraizar em sentido, perde-se em sentires superficiais, como bolhas que logo estouram, enquanto a alma, ausente, permanece vazia. É uma ode a sentir só o suficiente para flutuar, mas um ódio latente ao sentido verdadeiro, que traria a possibilidade de enveredar pelo desconhecido do ser. Assim, no fundo, todos agem e sentem iguais – variam as máscaras, mas nunca as expressões.